CALOR NA DOSE CERTA

 

 Calor na dose certa  

 

 

Entenda com a temperatura certa influencia em diversas partes da moto
Vela a 900º, corrente a 70º, água a 90º... com a temperatura dos componentes ajuda, ou atrapalha, sua moto
 

Na teoria, "temperatura está associada ao equilíbrio térmico, ao calor que pode ser medido ou sentido...". Na prática, a temperatura influencia nossa vida, inclusive na moto. Até a energia transformada pelo motor em movimento causa atrito, uma grande fonte de calor. Controlar a temperatura na moto é uma garantia de melhor desempenho, conforto e durabilidade. Aliás, o calor até faz falta em algumas situações: ligar a moto pela manhã e sair acelerando com o motor frio é prejudicial para muitos componentes. Afinal, tudo foi projetado para trabalhar numa faixa ideal de temperatura, quando as peças (e os lubrificantes) atingem sua eficiência e resistência máxima.

 

Exatamente por isso, vários componentes da moto trabalham a altíssimas temperaturas. Não só o motor, como peças esquecidas, como a relação secundária (corrente, coroa e pinhão) ou mesmo pastilhas de freios. Para diminuir a velocidade, os freios atingem altas temperaturas e necessitam de refrigeração.

 

Dedo Duro

O marcador de temperatura do motor, em motos mais sofisticadas, é um bom auxiliar para saber como anda o motor. Pilotos habituados com sua moto em diferentes situações percebem problemas rapidamente pelas variações de temperatura do motor. Às vezes até sem marcador de temperatura, apenas pela sensação de calor nas pernas.

Já em motos como a Yamaha R1, com marcador digital, a informação é em graus centígrados e qualquer variação é percebida com rapidez. A R1 funciona entre 80 e 90ºC e, no trânsito engarrafado, assim que a água chegava nos 100ºC, a ventoinha funcionava para baixar a temperatura. Em viagens por locais bastante frios, como a Cordilheira dos Andes (entre -10ºC e -15ºC) o motor funcionava por horas a 45/50ºC, sem que isso indicasse um problema. Esse é o ponto: quem está acostumado a moto, sabe como deve estar a temperatura em cada situação. Qualquer alteração maior indica problemas. Se no trânsito, o indicador mostrasse 60ºC... algo estaria errado, não com o motor, mas com o marcador. Por outro lado, numa viagem tranqüila por estrada aberta deveria marcar 80ºC... Se estivesse com 100ºC e ventoinha ligada? Sinal de superaquecimento do motor, talvez falta de água, obstrução no radiador...

 

 

Vela

Os eletrodos da vela funcionam acima de 400ºC, mas não podem passar dos 900ºC, sob risco de ignição espontânea da gasolina. Além disso, esta temperatura compromete a durabilidade do motor, gerando "batida de pino". Se a temperatura ficar abaixo dos 400ºC, pode haver o acúmulo de carvão no isolador da vela, o que causa falhas na ignição. Já na parte externa da vela (onde está o cachimbo) a temperatura não deve superar os 300ºC, para não afetar outros componentes como o cabo e cachimbo da vela, por exemplo. Para manter a vela na temperatura ideal é necessário usar a vela indicada pelo fabricante, manter o carburador e a folga das válvulas bem carburadas e evitar combustível contaminado (batizado). Além de trocar óleo e filtro dentro do prazo.

 

 

Relação

A corrente de transmissão trabalha com até 70ºC. Caso essa temperatura seja ultrapassada, ocorrerá um atrito excessivo entre acorrente, coroa e pinhão, com risco de rompimento da corrente, além de danos em outros componentes. O atrito em excesso ocasiona uma perda de até 20% de durabilidade do kit, ou seja, de mais de 15 mil quilômetros, este passará a durar 12 mil quilômetros. Para evitar o superaquecimento o conjunto de transmissão deve estar sempre limpo, lubrificado e com a folga correta.

 

 

Freio

A temperatura ideal das pastilhas é de 70ºC, acima disso surge o"fading" ou fadiga, que diminui a capacidade de frenagem. Neste caso, quando a temperatura sobe acima dos 150ºC, todo o sistema de freio fica comprometido. O fluído de freio literalmente "ferve" causando um freio "borrachudo". Já o freio traseiro - devido a menor ventilação natural, além de receber parte do calor expelido pelo motor - se aquece ainda mais. Nas mesmas condições, quando o freio dianteiro está a 70ºC, o traseiro chega aos 110ºC. Maus hábitos, como apoiar o pé no pedal traseiro e manter o manete do dianteiro acionado, também causam superaquecimento. Em condições extremas de uso, como descida de serra, não use os freios constantemente, para dar tempo dos freios ventilarem e esfriarem.

 

Lâmpada

O vidro de uma lâmpada de farol chega a atingir 300ºC e onde a lâmpada fica, 70ºC. Sua temperatura também está relacionada a tensão elétrica da moto. Se a tensão (que varia entre 12 e 13,5 V) for ultrapassada, a temperatura aumenta, e a vida útil da lâmpada é comprometida. Se a tensão for menor, a temperatura fica abaixo da normal, o que até aumenta a vida útil da lâmpada, porém sua iluminação fica comprometida. Problemas na tensão ocorre por falhas no regulador ou alternador. Verifique a tensão elétrica do soquete da lâmpada em caso de iluminação fraca ou queima constantes de lâmpada.

 

Radiador

Em motores com refrigeração líquida, a temperatura da água do radiador fica entre 90ºC e 95ºC. Acima disso a água tende a entrar em ebulição, oxidando o sistema e entupindo dutos. O resultado é a redução de fluxo do líquido e comprometimento da refrigeração, com superaquecimento do motor. Para evitar tudo isso, o sistema de refrigeração deve ser limpo com água corrente e a solução do arrefecimento (água com aditivo) ser trocada pelo menos a cada ano. O aditivo é anticorrosivo e aumenta o ponto de ebulição (fervura) da água. São a base de etileno-glicol, que também evita o congelamento da água em temperaturas abaixo de zero grau. O congelamento da água causa trincas internas no bloco do motor.

 

 

Lubrificante

Geralmente as temperaturas médias para os lubrificantes de motos são maiores que nos automóveis, devido ao menor volume de óleo no cárter e as exigências dos motores.

Assim, bons lubrificantes para motos devem resistir a temperatura de cárter acima dos 100ºC e, em casos críticos, de quase 140ºC. Já ao trabalhar com o motor excessivamente frio o combustível não queimado passa para o cárter na forma líquida contaminando o óleo. Por outro lado, trabalhar com motor excessivamente quente acelera a degradação de lubrificante por oxidação, reduzindo a sua fica útil, além do efeito térmico deteriorar vedações e componentes do motor. (Celso Cavallini - Móbil)